A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (Enfam) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) promoveram nesta semana, de 20 a 22 de outubro, a Formação de Formadores (FOFO) sobre o PopRuaJud, que institui a Política Nacional Judicial de Atenção a Pessoas em Situação de Rua e suas interseccionalidades. A iniciativa do Poder Judiciário busca garantir atendimento prioritário, humanizado e desburocratizado a essas pessoas, ampliando seu acesso à Justiça.

A formação foi realizada na sede da Escola pelos magistrados Vladimir Santos Vitovsky e Fábio Pienezi Póvoa, reunindo integrantes da magistratura, servidores, representantes da Defensoria Pública, do Ministério Público, do movimento Pop Rua Jud e da sociedade civil, especialmente pessoas que já vivenciaram a situação de rua.

Ao longo dos três dias, participantes acompanharam aulas teóricas, atividades práticas, metodologias e diretrizes pedagógicas voltadas à promoção da empatia e da escuta ativa. Segundo Vladimir Vitovsky, o curso teve resultados muito positivos, com grande envolvimento da turma. “Foi muito intenso e muito produtivo. A cada dinâmica recebíamos feedbacks positivos. Houve muita dedicação e profundidade teórica, mas sempre com uma teoria vivenciada, praticada, e não apenas exposta”, afirmou.

A coordenadora nacional do Movimento Nacional da População em Situação de Rua e integrante do Comitê Pop Rua Jud, Sueli Oliveira, destacou a relevância dessa metodologia ativa na formação. “Estamos acostumados com aulas em que somos mais passivos do que ativos. Aqui, foi totalmente diferente. A gente participa o tempo todo, interagimos, e isso faz toda a diferença no aprendizado. Saímos com um novo olhar em relação à formação, algo que levamos não só para o trabalho, mas para a vida, para a vivência coletiva e familiar”, destacou.

Os alunos participaram de diversas atividades práticas, sendo que uma delas simulou uma audiência de custódia com uma mulher com filhos em situação de rua. Em outra atividade, uma juíza interpretou uma pessoa em situação de rua, vivenciando uma perspectiva diferente da que está acostumada. “Foi muito emotivo, com uma carga emocional muito forte, já que ela vivenciou o papel dessa pessoa, da pessoa que ela julga. Isso trouxe um material muito produtivo para o curso”, relatou Vladimir.

No último dia, docentes apresentaram uma dinâmica em que cada participante escreveu dois aprendizados ou sentimentos marcantes da formação. Os papéis foram sorteados e redistribuídos entre os alunos, que leram o que outra pessoa havia escrito. Segundo Vladimir, o objetivo da atividade era promover a reflexão e a troca de percepções sobre as experiências vividas, além de fazer novas conexões e acrescentar novos pontos de vistas sobre o que foi levantado.

Por fim, os alunos foram divididos em grupos para cumprir o objetivo central da Formação de Formadores: planejar uma aula sobre o tema e apresentá-la para o restante da turma.

Para Rafaelly Machado, coordenadora do Movimento Nacional da População em Situação de Rua em Alagoas e conselheira do
Comitê Pop Rua Jud, o FOFO foi histórico. “Estamos construindo uma capacitação que será replicada em outros estados e escolas de magistratura, com foco na política judiciária para a população em situação de rua. Essa formação é importante para conseguirmos concretizar os direitos desse grupo, pensando em um olhar mais humanizado da Justiça Social”, afirmou. Rafaelly também agradeceu à Enfam pela iniciativa e pela oportunidade de troca de conhecimentos. “Não só aprendemos, como também ensinamos. Saio daqui com a bagagem mais cheia e com a perspectiva de dias melhores para a população de rua”, finalizou.