Projeto usa mão de obra de presos para recuperar praças e escolas públicas do Pará

As praças e escolas públicas de 16 municípios paraenses contam com a ajuda de um serviço de manutenção inusitado. São 300 homens e mulheres condenados pela Justiça, que uma vez por mês deixam a prisão para visitar instalações públicas, como escolas, hospitais e até delegacias, onde realizam pequenos consertos e reformas. Segundo o idealizador do […]

As praças e escolas públicas de 16 municípios paraenses contam com a ajuda de um serviço de manutenção inusitado. São 300 homens e mulheres condenados pela Justiça, que uma vez por mês deixam a prisão para visitar instalações públicas, como escolas, hospitais e até delegacias, onde realizam pequenos consertos e reformas. Segundo o idealizador do projeto, juiz Deomar Barroso, o trabalho melhora tanto a paisagem urbana como a vida dos detentos que participam do projeto.

“O trabalho resgata a autoestima dos presos, pois o projeto trabalha valores positivos, como ética, retidão, disciplina, trabalho e moral”, afirmou o magistrado. Antes mesmo de serem selecionados para o projeto, os detentos têm de demonstrar a assistentes sociais, psicólogas, professores e pessoal de segurança da unidade prisional que são capazes de respeitar a autoridade.

“Às vezes temos grupos de até 30 homens carregando facões, enxadas e roçadeiras. Para isso, o preso precisa conquistar a confiança da equipe da casa prisional”, afirmou o juiz.

Além de capinar praças públicas, pintar muros e fazer pequenos reparos nas redes hidráulica e elétrica de instituições públicas, os presos relatam suas experiências na prisão a grupos de alunos das escolas visitadas pelo projeto. Durante o “Papo di rocha” (termo da gíria equivalente a “conversa franca”), os presos compartilham episódios de horror vividos atrás das grades.

“Eles contam como é dividir um só banheiro com 20 colegas de cela, ver gente sendo morta na prisão, se alimentar da péssima comida geralmente servida nos presídios, ser abandonado pela própria família”, afirmou o juiz do Tribunal de Justiça do Estado do Pará (TJPA).

Nas palestras, não é raro ver professores e alunos se emocionando com as histórias contadas, segundo Barroso, que iniciou o projeto em 2003, quando ainda era juiz de Execução Penal, em Belém/PA, com poucos presos.

Com a parceria obtida com a Superintendência do Sistema Penitenciário do estado (Susipe/PA), o projeto foi levado para municípios do interior do estado cujo território é maior que Angola: Abaetetuba, Capanema, Marabá, Marituba, Mocajuba, Paragominas, Salinópolis, Santa Izabel do Pará, Tomé-açu, Cametá, Castanhal, Bragança, Tucuruí, Altamira e Redenção.

Hoje responsável pela execução penal na comarca de Abaetetuba, o magistrado vislumbra os benefícios que o projeto gerará para a realidade além das grades. “Estamos fazendo um trabalho de prevenção da criminalidade. As vítimas não querem se vingar de quem cometeu o crime, querem nunca mais ser vítimas novamente”, afirmou Barroso, que sonha em expandir o projeto para todo o País.

Ao apresentar o projeto aos grupos de monitoramento e fiscalização carcerária dos tribunais, em Brasília/DF, os participantes demonstraram entusiasmo com a iniciativa e o conselheiro do CNJ Guilherme Calmon prometeu visitar o Pará, ainda este ano, e conhecer o projeto de perto.
Fonte: Agência CNJ de Notícias